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MidiaNews | Além do Jaleco

O ambiente hospitalar, especialmente em unidades de pronto atendimento (UPAs) e unidades de terapia intensiva (UTIs), impõe aos trabalhadores da saúde uma rotina marcada por pressão constante, sobrecarga de trabalho e decisões urgentes. Nessas estruturas, onde cada segundo pode definir o destino de uma vida, o profissional da saúde é exposto não apenas a riscos físicos e biológicos, mas também a uma carga psicológica intensa e silenciosa.

 

Além dos riscos tradicionais, há uma dimensão frequentemente negligenciada: os riscos emocionais e psicossociais. A constante pressão por atender rapidamente um grande número de pacientes em situações de emergência pode levar a níveis alarmantes de estresse, ansiedade e desgaste emocional. Estudos já demonstraram que esses fatores contribuem significativamente para a deterioração da saúde mental desses profissionais.

 

A exposição crônica ao estresse compromete seriamente o bem-estar psíquico dos trabalhadores da saúde. Os sinais mais comuns incluem esgotamento físico e emocional, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração e, em casos mais graves, depressão e transtornos de ansiedade.

 

A síndrome de burnout, caracterizada por um estado de exaustão extrema relacionada ao trabalho, tem sido cada vez mais diagnosticada entre os profissionais da linha de frente. Em UTIs e UPAs, onde o contato com o sofrimento humano é constante e intenso, o risco de adoecimento é agravado pela falta de recursos, equipes reduzidas e a cobrança por desempenho imediato.

 

Esses quadros não afetam apenas o indivíduo, mas comprometem a qualidade do atendimento prestado. Um profissional emocionalmente exaurido pode ter seu desempenho prejudicado, aumentando o risco de falhas, afetando o clima organizacional e gerando impactos coletivos.

 

Os afastamentos por transtornos mentais e comportamentais têm crescido de forma constante nos últimos anos. Dados da Previdência Social indicam que os benefícios concedidos em razão de depressão, ansiedade, estresse ocupacional e burnout vêm aumentando progressivamente, refletindo o peso da sobrecarga emocional na saúde dos trabalhadores brasileiros.

 

Esse crescimento revela que o sofrimento psíquico no trabalho extrapola o âmbito individual, tornando-se uma questão de saúde pública e de responsabilidade institucional. No caso dos profissionais da saúde, essa realidade é ainda mais preocupante, pois muitos continuam atuando mesmo diante de sinais evidentes de exaustão, sem apoio psicológico ou estrutura adequada para lidar com suas emoções.

 

A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), promovida pela Portaria MTE nº 1.419, de 27 de agosto de 2024, representou um avanço importante ao incluir, de forma expressa, os riscos psicossociais no escopo do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). A nova redação, que entra em vigor em maio de 2025, obriga os empregadores a identificar, avaliar e controlar fatores relacionados ao sofrimento emocional no ambiente de trabalho, como pressão excessiva, assédio moral, sobrecarga e estresse crônico.

 

Essa atualização representa uma mudança de paradigma por parte do Estado brasileiro ao reconhecer que a saúde do trabalhador vai além dos aspectos físicos. Ao incluir os fatores psicossociais na gestão de riscos, a norma reforça a importância de políticas integradas, que considerem o bem-estar emocional como parte essencial da segurança no trabalho. A medida também alinha o Brasil às recomendações internacionais sobre saúde mental no ambiente laboral.

 

No contexto dos profissionais da saúde, essa mudança reforça o dever das instituições de estruturar programas permanentes de suporte emocional às equipes. A inclusão formal desses riscos no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) consolida o entendimento de que a saúde mental é um componente indispensável da saúde ocupacional e da segurança no trabalho.

 

É urgente que o setor da saúde adote medidas concretas e contínuas para preservar o bem-estar emocional de seus profissionais. Entre as ações necessárias, destacam-se:

 

  • Criação de espaços permanentes de escuta e acolhimento psicológico;
  • Capacitação de lideranças para identificar e lidar com sinais de sofrimento psíquico;
  • Respeito às jornadas de trabalho, com escalas que assegurem tempo de descanso e recuperação;
  • Valorização profissional com reconhecimento, segurança e respaldo institucional.

É preciso romper com a cultura da resistência e do silêncio. Profissionais que cuidam da vida não devem ser vistos como super-heróis inabaláveis, mas como seres humanos que também precisam de apoio, afeto e proteção.

 

O estresse ocupacional, especialmente na saúde, deve ser encarado como um risco real, coletivo e institucional. A saúde mental dos que cuidam não pode mais ser invisibilizada nem tratada como problema individual.

 

A alteração da NR-1 foi um avanço importante. Mas a transformação real só ocorrerá quando as instituições assumirem, de fato, o compromisso de construir ambientes de trabalho mais humanos e psicologicamente seguros.

 

A saúde mental dos profissionais da saúde deve ser prioridade nas esferas pública e privada. Cuidar de quem veste o jaleco é investir na dignidade e na continuidade do próprio cuidado.

 

Andrea Maria Zattar é advogada trabalhista.

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